talvez um amor de primavera
que abale as estruturas
de uma alma e corpo inteiros
que não seja ligeiro, mas
que fique com brandura.
e se não ficar o amor
que fique o perfume, as flores,
um aroma de beleza
e a beleza das cores...
era seu rosto na lembrança
no escuro da noite passada
tão nítido que a pupila dilatava
aos detalhes dos traços, da face
límpida e pura aos olhos meus
e o rosto pedia calma
era feito um grito da alma
mesmo com um sorriso
o rosto implorava abrigo.
A alma quando carece
proteger-se do perigo
chega pedindo aconchego
de um jeito ou de outro...
olhai por mim e velai-me
não exponha à maus tratos
esse ser inconseqüente
que se faz doente pela madrugada
sou só um ser como tantos
que se perde em encantos
vezes chora pelos cantos
mas que não merece tanto
tanto desamor, desalento
aperto doído do lado de dentro
olhai por mim e velai-me
sou só um ser machucado
as vezes buscando ser sarado
o desamor em busca do amor
o desalento em busca de alento
dá-me um sopro aqui dentro
e faz pulsar de novo esse ser
que de amor e amar anda sedento.
foto: Ronan Garcia
a lua decorava a noite enquanto delongava-se
o fogo em chamas, desejos insanos reacendia
provocando lembranças e pensamentos
a noite dava a liberdade e a liberdade nos preenchia
um frio tanto que transpassava o corpo
imenso verde ao redor e a beira do fogo
a fumaça subia e um barulhar a queima atraia
a noite dava a liberdade e a liberdade nos preenchia
branda e bela aproximava a madrugada
ainda ao relento sem nenhum tormento
dali , “entre o chão e os ares” , se contemplava a vida
numa perfeita harmonia. A noite dava a liberdade
cantávamos Liberdade e a liberdade nos preenchia
foi quando disseram que nem mesmo
o amor é pra sempre, então pré
ocupou-se em demasia de cuidá-lo
posto que hora uma ou outra morreria
aquele amor que pensado eterno vivia
cultivado à mãos ternas e alma calma
cresceu primeiro, tal qual dizia Rosa,
brotou depois,
mas brotou em um, não em dois
não sustentado o amor não vingou
viu-se enfraquecido, adoentado
e mesmo numa relutância persistente
lutando com todas as forças e dentes
não resistiu, mataram-no.
e das coisas do amor não mais se viu.
restou o medo, um medo tamanho
que, como diz a canção: “medo que
da medo do medo que da”
trancaram as entradas do coração, nem
mesmo pela greta da alma permitia sentir
mas esqueceu-se do buraco, o buraco
do lado de baixo, quase no meio.
o sentir não é só abstrato, é coisa de pele,
de corpo, contato. E se servido em bom
prato, dado lhe um trato, é fato: maravilha
de trepar com amor, como bem expressou
Gabriel Garcia na sua invenção de
aos 90 anos se meter com putaria.
A auréola já não a circulava como antes. Agora fazia um todo,
num embaçado de neblina e nuvem negra.
Faixas em movimento percorriam a viagem.
Olhos de gatos abertos com o reflexo do farol.
À beira, verde em extensão. E ela a refletir pela janela.
Quanto desajeito, desarrumo, desajuste.
Já não se exprime nem mesmo em uns poucos versos,
o gosto do que está interno.
A válvula de escape não se encontra.
O medo e a dor se apoderaram.
E o desejo de mudança permeia o consciente
e o inconsciente nos pesadelos, nas noites de insônia.
A mudança é alcançável,mas a atitude está inerte.
findou-se a ilusão
não há retalho nem cor
nem mosaico no chão
não há telha no teto
nem o azul da janela
como o do céu aberto
não há luz na escada
nem estranhas entradas
nem madeira na sala
nem o barulho no chão
pesado do cão
não há mais o latir
nem as pressas fugir
não há verde ao redor
nem amarelo
não há mais o singelo
que era tão belo
se foi o novembro
sua chuva e sereno
a porta fechou
o moço partiu
saudade deixou
a moça deixou
o moço gentil.
Carla Cardoso
...e nadam
nos meus olhos
as alegrias de um intenso
imenso
tempo pouco
que me rendi
banquei de louco
me perdi
meus versos
e meu canto
meu dedilhar
e meu encanto
minha metade
misturada a sua parte
de cores e formas
se fazendo arte
e envolvida à sua parte
que logo partiu
metade minha
se comprimiu
nesse peito que parte
em dois
feito qualquer coisa
pra depois...
Carla Cardoso