anda batendo cansado
na verdade não anda
já quase parado
quase que não bate
e se não bate apanha
e se recolhe num canto
qualquer apertado
do esquerdo lado
foto: Ronan Garcia
a lua decorava a noite enquanto delongava-se
o fogo em chamas, desejos insanos reacendia
provocando lembranças e pensamentos
a noite dava a liberdade e a liberdade nos preenchia
um frio tanto que transpassava o corpo
imenso verde ao redor e a beira do fogo
a fumaça subia e um barulhar a queima atraia
a noite dava a liberdade e a liberdade nos preenchia
branda e bela aproximava a madrugada
ainda ao relento sem nenhum tormento
dali , “entre o chão e os ares” , se contemplava a vida
numa perfeita harmonia. A noite dava a liberdade
cantávamos Liberdade e a liberdade nos preenchia
foi quando disseram que nem mesmo
o amor é pra sempre, então pré
ocupou-se em demasia de cuidá-lo
posto que hora uma ou outra morreria
aquele amor que pensado eterno vivia
cultivado à mãos ternas e alma calma
cresceu primeiro, tal qual dizia Rosa,
brotou depois,
mas brotou em um, não em dois
não sustentado o amor não vingou
viu-se enfraquecido, adoentado
e mesmo numa relutância persistente
lutando com todas as forças e dentes
não resistiu, mataram-no.
e das coisas do amor não mais se viu.
restou o medo, um medo tamanho
que, como diz a canção: “medo que
da medo do medo que da”
trancaram as entradas do coração, nem
mesmo pela greta da alma permitia sentir
mas esqueceu-se do buraco, o buraco
do lado de baixo, quase no meio.
o sentir não é só abstrato, é coisa de pele,
de corpo, contato. E se servido em bom
prato, dado lhe um trato, é fato: maravilha
de trepar com amor, como bem expressou
Gabriel Garcia na sua invenção de
aos 90 anos se meter com putaria.